O mistério eterno do Universo é a sua compreensão.”
(ALBERT EISTEIN)

Translate

Filosofia Moral

“O homem é uma espécie de interseção entre dois mundos: o real e o ideal. Pela liberdade humana, os valores do mundo ideal podem atuar sobre o mundo real.”
(Nicolai Hartmann)

FILOSOFIA MORAL

A filosofia nasceu um dia da decepção e do espanto e se desenvolveu numa busca criativa para entender a realidade.
Mas o desejo, a necessidade íntima e a decisão de conhecer não poderiam se restringir apenas à esfera teórica.
Se do mundo concreto veio a filosofia, ao mundo concreto ela deve voltar.
Não basta saber, é preciso fazer.
E o fazer se faz de várias maneiras.
Qual dessas maneiras é a melhor?
Qual é a mais justa?
Qual o fazer que traz a felicidade ao homem?
A filosofia prática tentará responder a essas questões.

І – Evolução do Homem e a auto consciência
1 – Comportamento adquirido e hereditário

       Ao contrário dos outros animais que predispõem de mecanismos de ação e reação para sobreviverem, dependendo basicamente do instinto natural tendo como fundamento o comportamento hereditário, o ser humano não é tão dependente do instinto para sobreviver; o mecanismo de sobrevivência tem como fundamento básico o comportamento adquirido por intermédio da razão, da aprendizagem, da experiência e dos conhecimentos do grupo.
          Isso dá ao homem uma grande vantagem que é a possibilidade de mudar seu comportamento; mudar de acordo com as novas situações do ambiente e com base em novos conhecimentos que ampliam o aprendizado recebido do passado. Por intermédio da razão e da inteligência, o homem analisa a natureza e intervém sobre ela modificando o ambiente e suas circunstâncias adversas, para submetê-la às suas necessidades humanas.

2 – Flexibilidade do comportamento humano

          O homem, possui um comportamento flexível, maleável, podendo melhor adaptar-se ás surpresas do presente e preparar-se para o futuro, ou seja, por intermédio da razão e da inteligência, o ser humano está mais preparado para enfrentar as surpresas que se apresentam na vida.

3 – Importância da aprendizagem

          Por intermédio dos ensinamentos recebidos dos antepassados e da criatividade individual, gerando novos conhecimentos, o homem desenvolveu métodos eficientes para obter alimento e superar as dificuldades do ambiente. Esses métodos não são herdados de forma definitiva e acabada, pois não provém de mecanismo instintivos. Em geral, nossos métodos de adaptação á vida são aprendidos e desenvolvidos a cada geração.
          A razão, a inteligência e a imaginação, enfim, nossas faculdades mentais, é que propiciam a aprendizagem. Essa capacidade de prender garante a sobrevivência e expansão de nossa espécie, e a posição singular que ocupamos em todo o reino animal.

4 – Autoconsciência humana

          O ser humano possui características, a tal ponto desenvolvida, que o distingue de todos os demais seres do planeta. Essas características é a consciência de si mesmo ou autoconsciência. Mediante essas características, o homem tornou-se capaz de pensar sobre a sua própria existência, de analisar seu passado e projetar seu futuro. Pela autoconsciência, ele passou a refletir sobre o mundo, sobre os problemas de seus semelhantes. Sobre o sentido da vida e a fatalidade da morte. Por isso, o homem é o único animal que pode aborrecer-se, que pode ficar descontente, que pode sentir-se expulso do paraíso. O homem é o único animal para quem sua existência é um problema que ele tem de solucionar e do qual não pode fugir.” (Fromn, Erich).

5 – Consciência de estar no mundo

        O animal possui uma existência, mas não tem, como os seres humanos, consciência plena deste fato. Já o homem possui uma consciência de estar no mundo, e sua razão, percebendo esse fato, questiona a vida, julga e toma decisões. Isso torna o homem um ser diferente, dono de uma vida que somente ele pode viver.

6 – Liberdade e Responsabilidade

          A autoconsciência confere ao homem a capacidade de tomar atitudes e decisões. Capacidade de escolher seu próprio caminho na vida e viver com liberdade.
          A liberdade consiste no poder de realizar a própria vontade. A pessoa livre é aquela que pode fazer o que quer. Isso traz duas implicações sobre a liberdade.

          As implicações da liberdade humana 
         
          A primeira implicação refere-se ao fato de só haver liberdade onde existe um querer autêntico. Assim, a pessoa que é incapaz de ouvir sua vontade interior jamais poderá ser livre. Quem não respeita sua própria personalidade, para seguir tão-somente as opiniões dos outros, não conhece a liberdade, pois esta exige consideração de si mesmo, exige respeito às convicções e escolhas pessoais.
          A segunda implicação refere-se à condição para a existência de um querer autêntico, podendo ser resumida no seguinte: além de querer é preciso saber oque quer. E para isso a reflexão é indispensável, De fato, nem todas as pessoas refletem e por isso não sabem, efetivamente, o que querem da vida. É certo que possuem desejos e tomam decisões (como, por exemplo, escolhem o seu cigarro, ingerem bebidas alcoólicas, compram produtos industriais etc.). Mas decisões tomadas sem reflexão, embora pareçam nossas, podem não ser autênticas porque nem sempre são geradas pelas nossas necessidades reais. Elas são decisões condicionadas pela moda, pela propaganda, pela ideologia dominante na sociedade. Quem age dessa maneira, sem ter consciência do seu condicionamento, não pode ser livre, pois se comporta como um joguete manipulado pela sociedade de consumo.

          Liberdade é a consciência da necessidade

          O critério para sermos o que realmente queremos é basear nossa liberdade de querer em nossas necessidades reais. Ao agir devemos nos perguntar se estamos usando nossa liberdade para nos desenvolver física e espiritualmente, ou se estamos agindo de modo contrário às necessidades de nossa natureza humana. Se nossa atitude é construtiva e produtiva em relação a nós mesmos, estamos agindo com liberdade e responsabilidade. Do contrário, sendo irresponsável perante a natureza que possuímos. A liberdade sem responsabilidade nada mais é do que uma forma de violência, mutilação e destruição do nosso próprio “Eu”. E para quem não possui respeito por si próprio é difícil compreender o respeito que deve ter aos outros, à sociedade e à natureza.

7 – Autoconhecimento e liberdade

        O homem deve fazer de sua liberdade uma realização das potencialidades de sua natureza e ser verdadeiramente feliz. O caminho para a auto – realização das pessoas tem por base a antiga lição do filósofo Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo, pois somente compreendendo tudo o que és, saberás o que podes e deves fazer.”
O autoconhecimento é a única chave capaz de abrir as portas da auto- realização e da verdadeira felicidade humana.
------------------------------------------------

“Se num instante as portas da percepção fossem alargadas, o homem veria então o que sempre foi: Infinito."
(Willian Blake)

 “Viver é ter consciência de que algo no mundo depende de mim e só de mim.”
(Gabriel Marcel)





 Π – Ética
 A busca do conhecimento do ser para construir aquilo que deve ser
          A ética (do grego ethikós, “costumes”, “comportamento”) é uma parte da filosofia que busca refletir sobre o comportamento humano sob o ponto de vista das noções de bem e de mal, de justo e de injusto. A ética tem duplo sentido.
a)    – elaborar princípios de vida capaz de orientar o homem para uma ação moralmente reta.
b)     - refletir sobre os sistemas morais elaborados pelos homens. Podemos dizer que pertencem ao vasto campo da ética a reflexão sobre perguntas fundamentais como:
· O que devo fazer para ser justo?
· Quais valores devo escolher para guiar minha vida?
· Há uma hierarquia de valores que deve ser seguida?
· Que tido de ser humano devo ser nas relações comigo mesmo, com meus semelhantes e com a natureza?
· Que tipos de atitudes devo praticar como pessoa e como cidadão?


          As questões éticas abrangem largo campo da vida humana. Pois o homem, além de sua dimensão individual, é também um ser social, o agir humano atinge e desdobra-se nas ações políticas.
          Assim, ética e política são disciplinas complementares. A ética e a política são instrumentos pelos quais os homens fazem a sociedade.
          Portanto, as reflexões éticas não se restringem apenas à busca de conhecimento teórico sobre valores humanos, cuja origem e desenvolvimento levantam questões de caráter sociológico, antropológico, religioso etc. A ética tem preocupações práticas. Ela orienta-se pelo desejo de unir o saber ao fazer.
          Como filosofia prática, a ética busca aplicar o conhecimento sobre o ser para construir aquilo que deve ser. E para isso, é indispensável uma boa parcela de conhecimento teórico.
          Trata-se assim, de uma interação dialética entre a reflexão interior e a ação exterior. Afinal, “a teoria sem a prática é estéril, e a prática sem teoria é ingênua".



1 – Consciência Moral

        A consciência moral é a capacidade que o ser humano possui de julgar suas próprias ações, decidindo se elas são boas ou más. Ela é uma espécie de voz interior que aprova ou desaprova nossas atitudes. Governada pela razão, a consciência moral nos inclina para os valores positivos, encaminhando-nos para a prática do bem.
          O bem, embora se manifeste de muitas maneiras, é tudo aquilo que nos conduz à verdadeira felicidade. Do lado oposto, o mal é tudo o que nos afasta da verdadeira felicidade, ou seja, é tudo o que venha ser nocivo à natureza humana, embora possa produzir uma eventual e enganosa satisfação momentânea.

2 – Caráter Moral

        Em nosso relacionamento humano, podemos observar que nem todas as pessoas são permanentemente fiéis à prática do bem, isto é, nem sempre escutam a voz interior de sua consciência. Com efeito, as pessoas são diferentes em se tratando de caráter moral.
          O caráter moral pode ser entendido como a soma das qualidades boas ou más de uma pessoa. Quando as boas qualidades predominam, temos o bom caráter. Quando predominam as más qualidades, temos mau caráter.

         
Caráter Moral é o conjunto de qualidades éticas de uma pessoa



3 – Consciência Moral e Liberdade

          Consciência Moral, faculdade de observar a própria conduta e formular juízos sobre atos passados, presentes e as intenções futuras. Depois de julgar, o homem tem condições de escolher, dentre as circunstâncias possíveis, seu próprio caminho na vida. A essa possibilidade que o homem tem de escolher seu caminho e construir sua história dá-se o nome de liberdade.
          A liberdade e a consciência moral estão intimamente relacionadas, porque só tem sentido julgar moralmente a ação de uma pessoa se essa ação foi praticada em liberdade. Quando não se tem escolha (liberdade), quando se é coagido a praticar uma ação, é impossível decidir entre o bem e o mal (consciência moral). A decisão nesse caso é imposta pelas forças coativas. Por outro lado, quando estamos livres para escolher entre esta ou aquela ação, tornamo-nos responsáveis pelo o que praticamos. É essa responsabilidade que pode ser julgada pela consciência moral do próprio indivíduo ou grupo social.

4 – Responsabilidade Moral e o civismo


          A liberdade, tão essencial a nossas vidas, só tem valor ético quando associada à responsabilidade. Assim, toda pessoa livre deve ser, na mesma medida, uma pessoa responsável. Responsável perante sua consciência moral e perante as leis da sociedade em que vive. Portanto, a noção de liberdade está associada a duas espécies básicas de responsabilidade: a moral e a cívica.

          A responsabilidade moral deveres os perante nossa consciência moral. È necessário fortalecer a vontade humana, para que ela tenha como princípio a voz interior de sua consciência moral e como fim a prática do bem, sendo pessoas de bom caráter.
          A responsabilidade cívica abrange os deveres perante a sociedade objetivando o civismo e o bem comum. As boas qualidades devem ter sentido social, formando bons cidadãos, pessoas que compartilhem suas boas qualidades com os demais membros de sua Pátria.

          A moral se preocupa com o uso que o ser humano deve fazer de sua liberdade para ser verdadeiramente feliz.
          O civismo é o cumprimento consciente só deveres para com a Pátria, tendo como objetivo o bem-estar de todos.

5- Liberdade, responsabilidade e moralidade

          A ligação entre liberdade, responsabilidade e moralidade foi identificada e estabelecida por diversos pensadores. Entre eles destaca-se Kant, no século XVIII, inspirado nos ideais iluministas de autonomia da razão. Ele dizia: “Age de tal modo que a máxima da tua vontade possa valer sempre ao mesmo tempo como principio de uma legislação Universal”.
          Ou em outras palavras: devo proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a minha máxima se torne lei universal.
          Assim, se aquilo que eu determinar para mim puder se tornar uma lei moral para todos, terei a máxima liberdade de obedecer às leis que eu mesmo criei.
          Para o materialismo histórico, no entanto, é evidente que a liberdade não é lago que se exerce no vazio, mas dentro das limitações impostas pelas circunstâncias. O exercício da liberdade é a luta para ampliar ou romper os limites das circunstâncias históricas. Pois segundo as palavras de Marx: “Os homens fazem sua própria história, mas não o fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas”. Pelo passado


6 – Normas morais e normas jurídicas

       

          Como disciplina prática a ética procura responder a questões do tipo: O que devo fazer? Como devo agir?
          Quando estas questões éticas são colocadas pelos indivíduos ou grupos sociais e respondidas apenas por suas consciências (individual e coletiva), surgem as normas morais.
          Por outro lado, quando essas questões éticas são colocadas pela sociedade e respondidas pelo Estado, surgem as normas jurídicas.
          Desta maneira, podemos estabelecer a seguinte diferença entre normas morais e jurídicas:
· normas morais: são regras éticas que têm como base a consciência moral das pessoas ou de um grupo social. As normas morais podem se estender por toda coletividade mediante os costumes e tradições predominantes em determinado meio social.
· Normas jurídicas: são regras ético-sociais que têm como base o poder do Estado sobre a população que habita seu território. Assim, uma das principais características da norma jurídica é a coercibilidade, isto é, a norma jurídica conta com a força e a repressão potencial do Estado para ser obedecida pelas pessoas.
          Quando alguém desrespeita apenas uma norma moral, como, por exemplo, um dever de cortesia, sua atitude ofende somente a moralidade de um determinado grupo, que não tem poderes enérgicos para promover uma punição. Ao contrário, se uma pessoa desrespeita uma norma jurídica prevista, por exemplo, no Código Penal, sua atitude provoca a coação do Estado, que tem poderes efetivos para impor pena ao infrator.

7 – Virtudes e Vícios

          Virtude (A palavra deriva do latim “virtus”, qualidade ou ação digna do homem). Portanto, é o hábito de praticar o bem, isto é, de realizar ações que nos conduzam à verdadeira felicidade. A virtude corresponde ao uso da liberdade com responsabilidade.

          Vício, o oposto de virtude, é o hábito de praticar o mal, isto é, de realizar algo que no afasta da verdadeira felicidade. O vício corresponde ao uso da liberdade sem responsabilidade.

          Devemos destacar que a prática da virtude é a consequência natural da conduta do homem de bom caráter, do homem que escuta a voz de sua consciência moral, orientada pelos valores positivos da vida.

 


As principais virtudes humanas
         
          Os vários tipos de virtude podem se classificados de diversas maneiras. Vejamos uma classificação que divide as virtudes morais e cívicas

Virtudes Morais são aquelas que revelam o hábito do homem de sempre agir bem, cumprindo os seus deveres de maneira livre e responsável. Dentre as principais virtudes morais:

·       Prudência – é o hábito de agir no momento certo, sem se adiantar ou se atrasar em relação aos acontecimentos. Quem se adianta é precipitado. Quem se atrasa é negligente. A prudência é a virtude do equilíbrio: caracteriza as pessoas responsáveis.

·       Solidariedade – é o hábito de participar de maneira construtiva da vida de nosso semelhante. Solidariedade é a participação e ajuda: é uma virtude que depende do sentimento de amor ao próximo.

·       Temperança - é o hábito da moderação. Quem come e bebe demais não possui temperança, não consegue controlar. A temperança é o controle dos apetites e das paixões. Significa o domínio de si mesmo.

·       Coragem – é a ação consciente, firme e enérgica diante dos problemas e perigos da vida. A pessoa corajosa não é aquela que procura o perigo e se arrisca para se exibir diante dos outros. Também não é aquela que diz não ter medo de nada. O medo diante do perigo é perfeitamente natural. Coragem é enfrentar os desafios quando eles aparecem e não, sair em busca de situações perigosas. É saber vencer o medo e analisar os riscos. É agir, e não fugir quando nossa ação se faz necessária.

·       Justiça – é a ação de dar a cada um o que lhe é devido. É exigir os direitos e cumprir os deveres. Sem justiça, a vida em sociedade seria absolutamente impossível.

·       Franqueza ou Sinceridade – é o hábito de manifestar a verdadeira opinião, sem fingimento. A franqueza é o contrário da falsidade ou hipocrisia. Entretanto, ser sincero não significa ofender e magoar as pessoas desnecessariamente, com opiniões impensadas.

·       Perseverança – é a firmeza de vontade dirigida para um objetivo ou ideal de vida. Por exemplo: se você deseja concluir com sucesso os seus estudos, é necessário perseverança, é necessário dedicação e força de vontade. Pouca coisa de valioso podemos conseguir na vida se não temos perseverança.

·       Virtudes Cívicas – são aquelas que levam o cidadão a cumprir conscientemente os seus deveres com a Pátria.
          São também virtudes cívicas todas as virtudes morais já vistas, além de outras virtudes, como honestidade, a obediência às leis, o trabalho pelo bem-comum. As virtudes cívicas podem ser resumidas e poucas palavras:
       
        Amor forte e inteligente em relação à Pátria. Inteligente para conhecer os seus problemas e grandezas, e forte para lutar por sua independência e seu desenvolvimento.
 



8 – Responsabilidade

        O termo responsabilidade vem do latim respondere e significa estar em condições de responder pelos atos praticados, isto é de justificar ações. Nesse sentido responsabilidade pressupõe uma relação entre a pessoa responsável e “algo” ao qual ou pelo qual ela responde.
          Pra Erich Fromm, a responsabilidade tem como base, num primeiro momento, a relação do homem com sua própria condição humana, isto é, com a realização de suas potencialidades de vida. Assim, o bem é a afirmação da vida, o desenvolvimento das capacidades do homem. A virtude consiste em assumir a responsabilidade por sua própria existência. O mal constitui a mutilação das capacidades do homem; o vício reside na irresponsabilidade perante si mesmo.

9 – Razão

          Razão é a capacidade humana de avaliar, julgar e organizar os inúmeros fatos percebidos pela mente.
          É a razão que fornece ao ser humano a “consciência de estar no mundo”, fazendo-o reagir diante dos inúmeros fatos percebidos pela mente. Graças à razão, o homem não é um ser passivo ou indiferente, mas alguém que analisa, questiona, julga e assume preferências.
          Assumindo posição de preferência sobre diversas coisas da vida porque temos uma razão que nos ajuda a perceber se essas coisas são boas ou más, belas ou feias, justas ou injustas, úteis ou inúteis. Percebemos enfim, o valor das coisas que nos cercam.

10 – Valores Humanos

          Valor é a qualidade que descobrimos nas coisas. Essa qualidade revela-se por meio do interesse despertado no observador pela coisa por ele observada.
          O valor que descobrimos nas coisas pode ser de dois gêneros:
·       Positivo é a qualidade desejável, como, por exemplo, o bem, o belo, o justo;
·       Negativo (contra valor) é a qualidade não desejável como, por exemplo, o mal, o feio, o injusto.
Nossa razão nos inclina a preferir os valores positivos e repelir os negativos. Existem, no entanto, diversos valores positivos a serem escolhidos pelo homem. É importante destacar que nem sempre as mesmas coisas, através da história nos homens são os mesmos valores.
Alguns tipos de valores positivos:
·       Valores estéticos – valores da beleza e das artes.
·       Valores hedônicos – valores do agradável e do prazer. Recebem este nome porque hedônico se refere a prazer.
·       Valores vitais – valores essenciais à vida física, como a saúde, a força, o vigor.
·       Valores úteis – valores econômicos, que determinam o que, de maneira geral, é conveniente ou inconveniente.
·       Valores éticos – valores do bem e do justo, que fundamentam a moral e o justo.
·       Valores religiosos – valores do espírito humano, que nos orientam no caminho do reencontro com Deus.

A hierarquia dos valores

        É possível elaborarmos diversas hierarquias ou escolas de valores. O estilo de vida de cada pessoa, sua maneira de ver o mundo, depende de cada pessoa, em grande parte da escala de valores que quisermos para nossas vidas, elegendo, o nosso critério, qual será o mais importante. Mas devemos ser responsáveis por nossas escolhas. Infelizmente, nem todas as pessoas associam liberdade com responsabilidade, por isso elegem valores inadequados e pouco condizentes com a grandeza na natureza humana. Numa sociedade confusa e problemática como a nossa, onde nem sempre a liberdade vem acompanhada de responsabilidade, grande parte das escalas de valores adotadas são incapazes de conduzir o ser humano a uma vida equilibrada e verdadeiramente feliz.
          Qual o critério para escolhermos nossa escala de valores? A pergunta não deve ser respondida de modo taxativo. O que se pode dizer é que compete a cada um de nós, ouvindo a voz profunda da consciência, escolher a escala de valores mais compatível com a própria natureza, tendo como objetivo nos fortalecer, no plano físico e espiritual, o mais plenamente possível.

11 – Os Valores Morais
          A polêmica entre o relativismo moral e os defensores de uma ética objetiva.

          Um dos grandes problemas da filosofia moral pode ser resumidas nas seguintes questões:
Ø Existem ou não valores válidos para todos os homens?
Ø Como justificar a classificação das ações em moralmente corretas ou incorretas, justas, boas ou más?
          Entre aqueles que tentaram responder essas questões encontramos duas vertentes principais: a dos que defendem que tal moral é relativa e a dos que acreditam em valores éticos objetivos e universais. Veja então cada uma delas.

Ø Relativismo Ético

          Admitindo uma multiplicidade de valores e códigos morais, alguns pensadores defendem a teoria do relativismo ético. Afirmam que não há uma base objetiva e universal a qual se possa erguer um sistema moral único, válido para todos os homens.

A tolerância como virtude

          Para o relativismo ético, a consciência moral dos homens é formada pelo conjunto de princípios e valores herdados de cada cultura. Assim, o conteúdo da consciência moral varia no tempo e no espaço. O que é virtude para um pacifista moderno pode não ter sido para um guerreiro huno. E mesmo dentro de um grupo cultural com certa homogeneidade – os cristãos, por exemplo – a consciência muda de época para época. A Igreja Medieval julgava moralmente correto queimar um homem vivo em fogueiras por ele ter cometido atos que hoje, obviamente, não mereceriam do cristianismo essa mesma brutal condenação.
          Percebe-se, então, que as sociedades humanas constroem no decorrer da história seus próprios códigos morais, que, por sua vez, refletem os valores éticos dominantes em cada cultura. Assim, verificamos que há sociedades onde o valor dominante é a busca do prazer físico. Em outras palavras, o valor moral mais importante é a glorificação religiosa de Deus. E ainda em outras palavras, como a sociedade em que vivemos, o valor dominante se refere à conquista do poder econômico, sucesso pessoas e acúmulo de riqueza.
          Para o relativismo ético, a moral é fruto do padrão cultural vigente. E este varia com a história e a geografia. Então, a ética torna-se uma questão de ótica. Isto é, reflete a visão do mundo (código e juízos morais) compartilhada por uma sociedade, visão de mundo criadora de normas para que a vida do grupo possa existir com certo grau de ordem, direção e solidariedade.
          Admitindo a existência de várias formas de moralidade, o relativismo ético defende que a virtude não pode se restringir a um conteúdo rígido de normas ou a um mandamento unilateral. A virtude estaria na tolerância, no respeito pelos diferentes sistemas morais que, entre si, admitem conviver pacificamente.
          Nesse sentido, imoral é, em primeiro lugar, o intolerante, que imagina ser ele o proprietário de um único critério moral para todas as formas de moralidade, e por isso o aplica a ferro e fogo sem levar em consideração as condições em que o juízo moral deva ser suspenso. Em segundo lugar, é o rigorista, aquele que pratica sua moral automaticamente, sem se dar conta da unilateralidade de seu ponto de vista. (Gianotti)

Ø Ética Objetiva

          Ao contrário do relativismo ético, existem filósofos que afirmam ser possível estabelecermos um conjunto de valores “objetivamente válidos” para os seres humanos.
          Entre os defensores de uma ética objetiva podemos destacar pensadores que se inspiram no conceito de “natureza humana” e outros que buscam inspiração nos valores filosóficos cristãos.


O conhecimento profundo da natureza humana

          Entendemos, aqui, por humanismo a postura filosófica que não quer afirmar ou negar a existência de Deus, na medida em que não precisa dela para fundamentar os valores da vida humana. O humanismo busca no conhecimento profundo da própria natureza humana a fundamentação para as normas éticas e os valores que devem orientar nossa vida individual e coletiva.
          De acordo com essa visão, o sistema de valores que adotamos não pode ser definido em função de quaisquer desejos subjetivos ou preferências arbitrárias, porque tanto o indivíduo como os grupos sociais podem estar momentaneamente dominados por desejos irracionais, patológicos e destrutivos. Hitler, por exemplo, queria ser o chefe supremo de uma “raça germânica superior”, que dominaria o mundo inteiro. E levou grande parte da sociedade alemã de sua época a acreditar nos valores nazistas
          Portanto, para a ética humanista objetiva, apenas os valores “objetivamente válidos” devem orientar os desejos humanos.
          E quais são, de modo geral, esses valores objetivamente válidos?
          Para Erich Fromm, valioso e bom é tudo aquilo que contribui para o maior desdobramento das faculdades específicas do homem e que favorece a vida. Negativo ou mau é tudo aquilo que estrangula a vida e paralisa a atividade do homem(...). Vencer sua própria cobiça, amar seu próximo, o conhecimento da verdade (diferente do conhecimento não críticos dos fatos) são as metas comuns a todos os sistemas humanistas filosóficos.
          Bertrand Russel, por outo lado, afirma que o grande objetivo da ética é “produzir desejos harmoniosos em vez de desejos discordantes” entre os homens, por isso aumentaria seu grau de felicidade.
          Como isso pode ser conseguido?
          Russel que a tarefa não é simples, mas inclui o combate aos medos irracionais, a todos os preconceitos forjados pela ignorância, e a dissolução dos fanatismos em conflito, sejam políticos, religiosos etc. O mundo e os homens deveriam ser, também, objetos permanentes de estudo científico. Para ele, o hábito de basear suas crenças nos resultados da ciência reflete a busca incessante dos homens por uma verdade cada vez mais plena.
          Assim, o princípio ético fundamental de Russel pode ser resumido numa única frase: a vida feliz é aquela “inspirada no amor e guiada pelo conhecimento”.

Valores filosóficos cristãos – o cristianismo


          Segundo o pensamento filosófico cristão, o homem é tido como um ser livre e responsável, a quem compete construir seu destino. Ocorre que, ao longo da vida, o homem nem sempre escuta a voz interior de sua consciência moral – que nos inclina naturalmente para a virtude – e, movido por tentações imediatas, pratica ações contra o amor de Deus e ao próximo. Nessas ações é que reside o vício ou o pecado: um desrespeito às leis naturais e eternas, que expressam a ordem divina.
          Para o cristianismo, o pecado não consiste exclusivamente em atitudes sociais que prejudicam os trabalhadores oprimidos, como poderiam ensinar os marxistas; tampouco se resume na conduta que ofende, unicamente, a natureza humana, como defende o humanismo. O pecado pode ser tudo isso, porém contém algo mais: e a ofensa voluntária praticada contra o amor de Deus e às suas criaturas.
          Como, então, o homem pode eleger em conjunto de valores “objetivamente válidos” para orientar sua vida? Para obter seus valores, o cristianismo entende que o ser humano precisa utilizar o esforço racional de sua inteligência, aplicada no conhecimento de si próprio e do mundo. Porém, só isso não é suficiente. O último passo no caminho da definição dos valores morais deve ser dado através da fé cristã.
          No que consiste essa fé? Essencialmente, é uma atitude de entrega plena, de “confiança refletida” na mensagem de Jesus Cristo, expressa nas Sagradas Escrituras – especialmente nos Evangelhos.
          Em nossa época, os pensadores cristãos representantes da Teologia da Libertação procuram mostrar a necessidade da interligação ética da fé cristã (considerada essencial no combate ao pecado) com uma prática social em favor dos pobres e oprimidos. Esses teólogos afirmam que: sem uma inserção na história concreta, a fé em Deus não passa de “ódio” e Deus mesmo se transforma num ídolo. (...) Desse modo. Temos que combinar o decisivo (a libertação do pecado) com o urgente (a libertação da miséria). Assim, para as massas do Terceiro Mundo, a “fome de Deus” será sempre a questão decisiva, mas a “fome de pão” continua sendo a questão urgente.
        Para esses teólogos, a palavra libertação, tem o seguinte significado: designa hoje o nome de uma teologia que pensa uma fé desperta e que sacudiu o pesadelo da “religião-ópio” e pensa que quer uma fé desalienada, fermento de uma história nova.

____________________________________________________________________
 

III – Textos
__________________________________________________________
1 – Liberdade e livre- arbítrio
    Uma reflexão sobre a “liberdade” que pode escravizar

     O texto seguinte faz uma interessante distinção entre a liberdade, entendida como a característica que permite a moralidade humana, e o livre-arbítrio, que é o meio pelo qual o homem realiza a sua liberdade.
     Liberdade é a propriedade de um ser de realizar em plenitude a sua natureza. Um Homem é tanto mais livre, quanto melhor pode realizar a natureza humana, integral e harmoniosamente. Livre-arbítrio é uma faculdade do ser livre, pela qual pode agir ou não agir, agir desta ou daquela maneira. O livre-arbítrio é um meio para realizar a liberdade, e um meio ambíguo. Bem empregado, liberta, mal empregado, escraviza. O homem que abusa do álcool ou do sexo usa mal o seu livre-arbítrio e perde sua liberdade, porque cai sob tirania do vício. O individualismo reduz a liberdade do livre-arbítrio. Por isto, o individualista crê desempenhar-se de sua obrigação para a sociedade, quando proclama uma liberdade puramente teórica, jurídica. Não se sente obrigado a colaborar concretamente para dar a todos os homens as possibilidades reais de serem homens, isto é, ser livres. Proclama a liberdade de ensino, mas não se preocupa por saber se milhões de homens não podem ir à escola, porque nem sequer têm roupa para sair de casa.

Pe. Fernando Bastos Ávila
Solidarismo, p. 278

______________________________________________________

2 – As diversas concepções sobre o bem e o mal

     Vejamos algumas concepções éticas a respeito do bem e do mal através dos tempos.

     ·Hedonismo
     Doutrina pregada desde a Grécia Antiga por filósofos como Geórgias, Cálicles e Arístipo. Os hedonistas afirmavam que o bem é tudo aquilo capaz de oferecer prazer imediato. O mal é aquilo que gera sofrimento.
     ·Epicurismo
     Doutrina elaborada por Epicuro (342 – 271 D.C.) que procurava aperfeiçoar o hedonismo. Defendia que o bem não era qualquer prazer, mas os prazeres devidamente selecionados. Assim, constitui uma espécie de hierarquia dos prazeres.
     Os epicuristas consideravam superiores, por preferirem os prazeres naturais em vez dos artificiais, os prazeres calmos em vez dos violentos. O supremo prazer intelectual que se obtinha mediante o domínio das paixões pela razão.
     ·Estoicismo
     O filósofo Zenão de Catium (336 – 263 a. C.) é considerado o fundador da escola estóica, que pregava um espírito de total renúncia aos desejos. Considerados como fonte de todo sofrimento humano. O bem consistia na aceitação da ordem universal, que deve ser compreendida pela razão.
     ·Tomismo
     O filósofo cristão Santo Tomás de Aquino (1225 – 1274) afirmava que o bem consiste nas ações capazes de aproximar o homem de Deus. Tomás de Aquino reconhecia que a razão humana tem condições de estabelecer deveres morais, mas procurava harmonizar esses deveres à ordem de Deus, revelada ao homem pela fé cristã.
     ·Formalismo Kantiano
     O filósofo alemão Kant defendia a concepção de moral que identificava o bem ao cumprimento puro e simples do dever. A fonte do dever é a razão humana, que elabora normas orientadoras de nossa conduta...

(GIANOTTI, JOSÉ ARTUR. Moralidade Pública e Privada).
______________________________________________________

3 – Causas da violência ou da maldade
     As posições dos instintivistas e dos sócio ambientalistas

     Quando se fala em violência ou maldade, uma das primeiras coisas que pensamos é, por exemplo, no ladrão de casas e carros, no assassino sanguinário, enfim, nos inúmeros criminosos que agridem pessoas e assaltam o patrimônio alheio.
     Menos comum é pensarmos na violência cruel dos salários de fome, da fata de moradia, do desamparo à saúde pública, do descaso pela educação, do preconceito racial etc. Violências surdas que oprimem milhões de pessoas “sem vez” e ainda “sem voz”.
     Temos também a violência do homem contra a natureza, provocando graves desequilíbrios ecológicos. E, por fim, há ainda a violência do homem contra si próprio, em que o suicídio figura como exemplo extremo.
     Então num sentido amplo, podemos dizer que a violência ou a maldade são formas de desrespeito, de agressão e destruição praticadas pelo homem contra si próprio, contra outras pessoas (sociedade) ou contra a natureza.
     Mas conforme escreveu Hannah Arendt: Qual é a causa do mal? Todo esse problema atormentou os filósofos, e suas tentativas de resolvê-lo nunca tiveram muito sucesso. O mal parece pertencer àquelas coisas sobre as quais até os homens mais cultos e inventivos não podem saber quase nada.
     É possível, porém, esquematicamente identificarmos pelo menos duas repostas antagônicas sobre as causas da violência ou maldade:
·instintivista: afirma que a violência humana, concretizada nas guerras, nos crimes, na opressão social, na conduta autodestrutiva, é provocada por instrumentos decorrentes a fisiologia básica do homem. Esse instinto agressivo sempre busca sua descarga e aproveita as ocasiões favoráveis para manifestar-se. No grupo de pensadores partidários do instintivismo destacam-se Konrad Lorez (criador da etologia) e Sigmund Freud (criador da psicanálise). Há, entretanto, inúmeras divergências entre as concepções de Freud e Lorenz.
·sócio ambientalista: nega que a violência seja um atributo inato do homem. Afirma que o comportamento humano (pacífico ou violento) é maldado pela influência do meio ambiente; isto é, pelos fatores sociais, econômicos, políticos e culturais. Assim, as diferenças socioambientais que teriam influenciado a personalidade dos indivíduos. No grupo sócio ambientalista destaca-se a corrente dos psicólogos behavioristas (do inglês behavior, comportamento”) fundada por J. B. Watson e desenvolvida por B. F. Skinner.
     Para os instintivistas, portanto, o ser humano apenas reproduz os impulsos orgânicos da sua espécie. O homem repete o passado filogenético.
     Já os sócio ambientalistas, o ser humano apenas reproduz a influência do seu meio ambiente. O homem repete o padrão da sociedade em que vive.
     Não é preciso negarmos totalmente essas suas concepções para percebemos que são posições extremadas. Afinal, o homem não se resume a um títere, que só reage passivamente ao meio ambiente (sócio ambientalista). O homem também não é, apenas, um ser aprisionado pelas garras dos instintos filogenéticos (instintivismo). O homem é muito mais do que tudo isso. É um ser multideterminado: um sistema aberto! Um ser que age, reage e cria significados para sua vida.
______________________________________________________
FIM



         








       


       





         




       
         


 





Nenhum comentário:

Postar um comentário