A filosofia
mãe de Lao-tsé
Confúcio
assinalava frequentemente que os seus ensinamentos não eram novos e que se
baseavam em grande parte no Livro das
Mutações. Seu contemporâneo Lao-tsé, fundador do taoísmo, também empregou a
noção de equilíbrio cósmico entre yin e yang. Porém, enquanto Confúcio se
inclinava mais para a direita, recomendando uma forma suave de patriarcado
impregnado de autodisciplina, de etiqueta e hierarquia, o posicionamento de
Lao-tsé era o mais liberal. Suas concepções sobre o mundo e sobre o papel que
nele desempenhamos são narradas em seu livro Tao-te King (O
livro do sentido da vida). Este contém apenas oitenta e um versos breves, e
mesmo assim é um dos livros mais conhecidos da literatura mundial. Cada verso
está cheio de observações profundas, e diz – se que o próprio Confúcio podia
avaliar apenas parte da sabedoria contida no Tao – te King. O famoso sinólogo
Joseph Needham o chamou de a mais profunda e bela obra da literatura chinesa.
O nome que pode ser pronunciado não é o verdadeiro nome.
A Verdade
que pode ser descrita com palavras não é a verdade eterna.
Não
podemos descrever o começo do Céu e da Terra.
As coisas
relativas não podem ser definidas com palavras, qualquer descrição é mera
comparação.
Quem
compreender isso também compreenderá que o que é relativo forma uma Unidade com
o Ser Absoluto de Tudo.
Quando
reconhecemos uma coisa como bela, desta forma já achamos a outra feia ou má.
Quando
consideramos fácil uma coisa, já definimos a outra como difícil.
O Alto e o
Profundo são dois aspectos da mesma Harmonia.
Portanto,
o Sábio age com mansidão e orienta com palavras suaves. Ele age em uníssono com
as leis naturais e oculta o seu eu.
Visto
de fora, o Tao parece vazio e, no entanto, está repleto de energia inesgotável.
Essa energia está à disposição dos que lhe compreendem a essência.
O
Tao aponta o caminho e destrói a confusão interior e exterior. Ele não tem
começo nem fim.
Lao-tsé deu o nome provisório de Tao
à força cósmica original, que significa algo como “Caminho” e sugere movimento
de seres e ocorrências através do tempo e do espaço. O Tao desenvolve-se de si
mesmo, ordena a si mesmo e transforma-se incessantemente segundo leis eternas.
É o fundamento de todas as coisas no céu e na terra. Sua força materna tem uma
influência suave no curso das coisas, sem, entretanto governar abertamente:
“... É a mãe inconcebível, a raiz do Tao”. Ao traduzirmos literalmente do
chinês os símbolos gráficos do sexto verso, obteremos mais ou menos o seguinte
significado: “A vaca (o elemento feminino) misteriosa é imortal, sobre ela
repousam o céu e a terra. Semelhante à nuvem, é isenta de forma, está
incessantemente em mutação.”
Segundo Lao-tsé, a nossa meta
deveria ser viver em sintonia com essa força. Devemos ser modestos, suaves e
adaptáveis. Aquele que se intromete com violência no curso natural das coisas
prejudica a si mesmo e causa o caos. Nossos pensamentos devem aproximar-se da
realidade e ser flexíveis e, se preciso, nossas opiniões devem mudar tanto
quanto a temperatura. Devemos nos sentir fortes por meio do nosso contato com o
Tao e, no entanto, mostrar-nos exteriormente fracos i insignificantes. A mania
de buscar o poder, a posse e a fama não traz felicidade, pois essas coisas
dependem da boa vontade de terceiros.
No âmbito social, o governo deve
intrometer-se o menos possível. Todos temos o desejo inato de ser bons e
honestos, e um modo de vida simples e inocente desperta essas virtudes. Um bom
governo influencia imperceptivelmente a sociedade, ao influenciar o desenvolvimento
em seus primeiros estágios, em vez de usar a violência mais tarde. Todos os
esforços de impor a ordem por meio de leis, policiais e guerras trazem apenas ainda
mais desordens e sofrimentos.
Se, ao contrário, a sociedade se
harmonizar com o Tao, os interesses dos indivíduos somam-se aos da comunidade.
Os dirigentes hábeis formulam as suas ordens de modo a que elas concordem com a
natureza humana, e, ao evitarem a ostentação e a pompa, dão um bom exemplo. Os
dirigentes não deveriam esquecer-se de que devem a sua posição ao povo e que
são um produto da sociedade. Deveriam preservar um sentimento de versatilidade,
e atender à voz do povo. Grandes problemas são muitas vezes consequência de
conflitos insignificantes que a princípio foram desatendidos ou silenciados.
Governantes hábeis alcançam o sucesso por cuidarem conscientemente de todos os
detalhes, enquanto os dirigentes fortes e autoritários ocasionam conflitos e
catástrofes pelo seu modo de proceder. A distribuição de renda da população
deveria ser feita com muita justiça, porá não suscitar invejas nem induzir as
pessoas ao roubo.
Em cada página do Tao-te-King
podemos descobrir uma alusão ao suave modo de vida yin, ou ao elemento yin da
ordem social ou cósmica. Talvez isso esteja interligado com a própria vida de
Lao-tsé. Segundo tradições chinesas, ele nasceu em 604 a. C., e era filho de um
camponês. Demonstrou grande interesse pela filosofia e pelos textos antigos em
sua juventude. Mais tarde tornou-se arquivista na corte de um príncipe, onde
teve um vislumbre da vida palaciana e da política. As intrigas, extravagâncias
e futilidades logo o enojaram, e ele sentia saudades da vida natural.
Podemos inferir que, entre os
antigos textos, ele tenha encontrado algumas referências a culturas e costumes
antigos que se aproximavam do modelo matriarcal sugerido no seu livro.
Arqueólogos e historiadores da atualidade comprovam a existência dessas
sociedades pacíficas da Terra.
Lao-tsé fala dos seus antecessores,
os quais conheciam o caminho correto e viviam em sintonia com o Tao. Viviam de
modo simples, não precisavam de um governo dispendioso e dispunham de poucas
armas. Não nutriam grandes ambições e é provável que não tivessem o progresso
técnico em alta conta. Ao que tudo indica, essas culturas foram repelidas no
decorrer dos séculos por patriarcados guerreiros, do mesmo modo como as
culturas pré-histórias yin na Europa foram repelidas nossa atual cultura yang.
Muito poucas descrições das antigas culturas e costumes foram preservadas, e no
Tao-te-Kung temos talvez o seu exemplo mais puro e abrangente. Os ensinamentos
dos essênios, traduzidos por B. Szekely, cujas raízes remontam à Ásia Central,
transmitiam ensinamentos semelhantes. Estes, por Sua vez, ingressaram no Novo
Testamento através da conexão de Jesus com os essênios.
O nome Lao-tsé é um título de
nobreza cujo significado é “O Velho” ou “Criança Sábia”, pois seu verdadeiro
nome é Li Pe-jang. Conta-se que Lao-tsé abandonou sua terra natal em idade
avançada. Ao chegar à fronteira, um guarda pediu-lhe para deixar algumas palavras
sábias para seus conterrâneos. Ele realizou esse desejo escrevendo, num só dia,
a mais bela e profunda obra da literatura, o Tao-te-King. Depois
disso, ele se recolheu à sua tão amada solidão e nunca mais foi visto.
(Do Livro: YIN YANG – POLARIDADE E
HARMONIA EM NOSSA VIDA De CRHISTOPHER MARKERT)
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