O mistério eterno do Universo é a sua compreensão.”
(ALBERT EISTEIN)

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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A filosofia mãe de Lao-Tsé


A filosofia mãe de Lao-tsé

            Confúcio assinalava frequentemente que os seus ensinamentos não eram novos e que se baseavam em grande parte no Livro das Mutações. Seu contemporâneo Lao-tsé, fundador do taoísmo, também empregou a noção de equilíbrio cósmico entre yin e yang. Porém, enquanto Confúcio se inclinava mais para a direita, recomendando uma forma suave de patriarcado impregnado de autodisciplina, de etiqueta e hierarquia, o posicionamento de Lao-tsé era o mais liberal. Suas concepções sobre o mundo e sobre o papel que nele desempenhamos são narradas em seu livro Tao-te King (O livro do sentido da vida). Este contém apenas oitenta e um versos breves, e mesmo assim é um dos livros mais conhecidos da literatura mundial. Cada verso está cheio de observações profundas, e diz – se que o próprio Confúcio podia avaliar apenas parte da sabedoria contida no Tao – te King. O famoso sinólogo Joseph Needham o chamou de a mais profunda e bela obra da literatura chinesa.

 

            O nome que pode ser pronunciado não é o verdadeiro nome.

          A Verdade que pode ser descrita com palavras não é a verdade eterna.

          Não podemos descrever o começo do Céu e da Terra.

          As coisas relativas não podem ser definidas com palavras, qualquer descrição é mera comparação.

          Quem compreender isso também compreenderá que o que é relativo forma uma Unidade com o Ser Absoluto de Tudo.

          Quando reconhecemos uma coisa como bela, desta forma já achamos a outra feia ou má.

          Quando consideramos fácil uma coisa, já definimos a outra como difícil.

          O Alto e o Profundo são dois aspectos da mesma Harmonia.

          Portanto, o Sábio age com mansidão e orienta com palavras suaves. Ele age em uníssono com as leis naturais e oculta o seu eu.

 

            Visto de fora, o Tao parece vazio e, no entanto, está repleto de energia inesgotável. Essa energia está à disposição dos que lhe compreendem a essência.

            O Tao aponta o caminho e destrói a confusão interior e exterior. Ele não tem começo nem fim.

            Lao-tsé deu o nome provisório de Tao à força cósmica original, que significa algo como “Caminho” e sugere movimento de seres e ocorrências através do tempo e do espaço. O Tao desenvolve-se de si mesmo, ordena a si mesmo e transforma-se incessantemente segundo leis eternas. É o fundamento de todas as coisas no céu e na terra. Sua força materna tem uma influência suave no curso das coisas, sem, entretanto governar abertamente: “... É a mãe inconcebível, a raiz do Tao”. Ao traduzirmos literalmente do chinês os símbolos gráficos do sexto verso, obteremos mais ou menos o seguinte significado: “A vaca (o elemento feminino) misteriosa é imortal, sobre ela repousam o céu e a terra. Semelhante à nuvem, é isenta de forma, está incessantemente em mutação.”

            Segundo Lao-tsé, a nossa meta deveria ser viver em sintonia com essa força. Devemos ser modestos, suaves e adaptáveis. Aquele que se intromete com violência no curso natural das coisas prejudica a si mesmo e causa o caos. Nossos pensamentos devem aproximar-se da realidade e ser flexíveis e, se preciso, nossas opiniões devem mudar tanto quanto a temperatura. Devemos nos sentir fortes por meio do nosso contato com o Tao e, no entanto, mostrar-nos exteriormente fracos i insignificantes. A mania de buscar o poder, a posse e a fama não traz felicidade, pois essas coisas dependem da boa vontade de terceiros.

            No âmbito social, o governo deve intrometer-se o menos possível. Todos temos o desejo inato de ser bons e honestos, e um modo de vida simples e inocente desperta essas virtudes. Um bom governo influencia imperceptivelmente a sociedade, ao influenciar o desenvolvimento em seus primeiros estágios, em vez de usar a violência mais tarde. Todos os esforços de impor a ordem por meio de leis, policiais e guerras trazem apenas ainda mais desordens e sofrimentos.

            Se, ao contrário, a sociedade se harmonizar com o Tao, os interesses dos indivíduos somam-se aos da comunidade. Os dirigentes hábeis formulam as suas ordens de modo a que elas concordem com a natureza humana, e, ao evitarem a ostentação e a pompa, dão um bom exemplo. Os dirigentes não deveriam esquecer-se de que devem a sua posição ao povo e que são um produto da sociedade. Deveriam preservar um sentimento de versatilidade, e atender à voz do povo. Grandes problemas são muitas vezes consequência de conflitos insignificantes que a princípio foram desatendidos ou silenciados. Governantes hábeis alcançam o sucesso por cuidarem conscientemente de todos os detalhes, enquanto os dirigentes fortes e autoritários ocasionam conflitos e catástrofes pelo seu modo de proceder. A distribuição de renda da população deveria ser feita com muita justiça, porá não suscitar invejas nem induzir as pessoas ao roubo.

            Em cada página do Tao-te-King podemos descobrir uma alusão ao suave modo de vida yin, ou ao elemento yin da ordem social ou cósmica. Talvez isso esteja interligado com a própria vida de Lao-tsé. Segundo tradições chinesas, ele nasceu em 604 a. C., e era filho de um camponês. Demonstrou grande interesse pela filosofia e pelos textos antigos em sua juventude. Mais tarde tornou-se arquivista na corte de um príncipe, onde teve um vislumbre da vida palaciana e da política. As intrigas, extravagâncias e futilidades logo o enojaram, e ele sentia saudades da vida natural.

            Podemos inferir que, entre os antigos textos, ele tenha encontrado algumas referências a culturas e costumes antigos que se aproximavam do modelo matriarcal sugerido no seu livro. Arqueólogos e historiadores da atualidade comprovam a existência dessas sociedades pacíficas da Terra.

            Lao-tsé fala dos seus antecessores, os quais conheciam o caminho correto e viviam em sintonia com o Tao. Viviam de modo simples, não precisavam de um governo dispendioso e dispunham de poucas armas. Não nutriam grandes ambições e é provável que não tivessem o progresso técnico em alta conta. Ao que tudo indica, essas culturas foram repelidas no decorrer dos séculos por patriarcados guerreiros, do mesmo modo como as culturas pré-histórias yin na Europa foram repelidas nossa atual cultura yang. Muito poucas descrições das antigas culturas e costumes foram preservadas, e no Tao-te-Kung temos talvez o seu exemplo mais puro e abrangente. Os ensinamentos dos essênios, traduzidos por B. Szekely, cujas raízes remontam à Ásia Central, transmitiam ensinamentos semelhantes. Estes, por Sua vez, ingressaram no Novo Testamento através da conexão de Jesus com os essênios.

            O nome Lao-tsé é um título de nobreza cujo significado é “O Velho” ou “Criança Sábia”, pois seu verdadeiro nome é Li Pe-jang. Conta-se que Lao-tsé abandonou sua terra natal em idade avançada. Ao chegar à fronteira, um guarda pediu-lhe para deixar algumas palavras sábias para seus conterrâneos. Ele realizou esse desejo escrevendo, num só dia, a mais bela e profunda obra da literatura, o Tao-te-King. Depois disso, ele se recolheu à sua tão amada solidão e nunca mais foi visto.

(Do Livro: YIN YANG – POLARIDADE E HARMONIA EM NOSSA VIDA De CRHISTOPHER MARKERT)

 

 

 

         

 

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