“A alma incorporada é como um
viajante que viveu há muito tempo entre nações estrangeiras, e, portanto, tinha
não apenas esquecido os costumes do próprio país, mas também adotado aqueles
dos estrangeiros. Quando tal viajante retorna de sua viagem e deseja ser
bem-vindo pelos seus amigos e parentes, ele tenta impor suas maneiras
estrangeiras, e retorna novamente ao seu modo antigo de agir e pensar.
Igualmente, a alma, enquanto banida de seu lar celestial, e sendo forçada a
habitar uma forma física, adquire certos hábitos desta última, se ela deseja
retornar ao seu estado antigo, ela deve deixar de lado tudo o que havia adotado
da sua forma terrestre. Ela deve tentar retirar não apenas a máscara física
grosseira com o qual está vestida, mas também suas capas interiores, para que
ela possa entrar, digamos, em um estado de nudez no reino da bem aventurança.”
Há
duas fontes venenosas das quais o homem bebe o esquecimento da sua condição
anterior e que o torna esquecido de seu destino futuro: a dor e o prazer
sensual. Pelas ações desses dois mas especialmente pelas ações do último,
desejos e paixões são criados, e estes atraem a alma para a matéria e se tornam
a causa de sua corporificação. Então, a alma é, por assim dizer, pregada ao
corpo, e o veículo etéreo da alma se torna denso e pesado.
Deveríamos
evitar tudo que pode excitar a sensualidade, porque sempre que a sensualidade
estiver em atividade, a razão e a inteligência pura cessam suas atividades.
Deveríamos, portanto, nunca comer pelo mero prazer de comer, mas comer apenas o
necessário para alimentar corpo. O supérfluo, e especialmente a comida animal,
fortalece os laços que amarram à matéria, e afasta da divindade e das coisas
divinas.
O
sábio, sendo um sacerdote de Deus, deveria procurar permanecer livre de todas
as impurezas enquanto estivesse no templo da natureza, e nunca deveria esquecer
da sua dignidade à medida que se aproxima da fonte de toda a vida, enquanto ele
mesmo constitui uma fonte para os corpos dos animais mortos. Para a sua alimentação, deveria selecionar apenas
as dádivas puras de sua mãe terrestre. Se pudéssemos evitar todos os tipos de
comida, tornar-nos-íamos ainda mais espirituais. Redefinindo-nos à diferença
existente entre as coisas corpóreas e
incorpóreas, Porfhyrius diz:
“O
incorpóreo rege ao corpóreo, e, portanto, está presente em toda parte, embora
não em espaço, mas em poder. A existência corpórea das coisas não pode impedir
o incorpóreo de estar presente nas coisas com as quais deseja estar
relacionado. Portanto, a alma tem o poder de ampliar a sua atividade para
qualquer local que ela quiser. Ela é um poder que não tem limites, e cada parte
dela, sendo independente de condições especiais, pode estar presente em
qualquer lugar, desde que ela seja pura e inalterada como matéria. As coisas
não agem umas sobre as outras meramente pelo contato de suas formas corpóreas,
mas também à distância, desde que elas tenham uma alma, porque os elementos
mais elevados da alma estão em toda parte e não podem ser enclausurados no
corpo, com um animal em uma prisão ou um líquido em uma garrafa. A alma
universal, sendo essencialmente única e idêntica ao espírito supremo infinito,
pode, pelo infinito do ultimo, descobrir ou produzir tudo, e uma alma
individual pode fazer as mesmas coisas se ela estiver purificada e livre do
corpo.
O
reino da alma, sendo semimaterial, tem seus habitantes com formas semimateriais
(astral). Algumas delas são boas, outras más; algumas são gentilmente dispostas
para o homem, outras são maliciosas. Ambas as classes têm corpos etéreos, porém
mutáveis; as boas são mestres de seus corpos e desejos, as más são governadas
pelos desejos de seus copos. Todas elas são poderes para o bem ou para o mal,
divino, animal, ou influências diabólicas invisíveis criando, pelas suas
atividades interiores, paixões, desejos, vícios e virtudes nas almas dos seres.
Quanto mais perversas são, mais suas formas se aproximam do estado corpóreo.
Assim, elas vivem na emanação da matéria, induzem os homens a assassinar e
matar animais, desfrutando dos vapores que advêm de suas vítimas e engordam
absorvendo as substâncias etéreas do moribundo. Portanto, elas estão sempre
prontas a incitar os homens às guerras e aos crimes, e fazendo a coleta em
grandes multidões em locais em que homens animais são mortos.”
Porfhyrius
ridiculariza a ideia de que os
deuses, sendo mais inteligentes, mais poderosos e superiores ao homem, poderiam
ser coagidos, persuadidos ou forçados a fazer a vontade do homem ou a se
conformar com seus desejos.
Ele
repudia a teoria de que a clarividência, a profecia, etc., são o resultado da
inspiração de deuses aparentes, mas diz que ela são uma função de Divino
Espírito dentro do homem, e que o exercício dessas funções se torna possível
quando a alma é colocada naquela condição necessária para exercê-la. “A
consciência do homem pode estar centrada, dentro ou além de sua forma física,
e, de acordo com as condições, um homem pode estar, digamos, fora de si mesmo
ou dentro de si mesmo, ou em estado em que ele não está nem completamente fora
nem dentro, mas desfruta de ambos os estados, ao mesmo tempo.”
Ele também declara que existem muitos seres invisíveis
que podem assumir todas as formas possíveis e que aparecem como deuses, homens
ou demônios, e que gostam muito de mentir e de se disfarçar, e têm a pretensão
de serem as almas de homens mortos.
Diz-se
que Porfhyrius levitou no ar diversas vezes durante as suas orações, até uma
altura de dez metros ou mais e que, nessas ocasiões, seu corpo pareceu estar
com uma luz dourada.
“Os
deuses estão em toda parte, e aquele cuja alma está plena dessa influência
divina para exclusão das influências grosseiras, durante esse tempo, é o deus
representado por influência, possuindo seus atributos e ideias. A natureza da
união da alma dom Deus não pode ser intelectualmente concedida ou expressa em
palavras; aquele que realiza isso é idêntico a Deus; ele é a própria divindade,
e não há diferença entre ele e o ultimo. Os deuses não são invocados por nossos
oradores, mas nós nos elevamos até eles por nossas próprias aspirações e
esforços; nós estamos ligados a eles pelo poder abrangente do amor”.
Malchus Porphyrius foi um
filósofo discípulo de Plotino; nasceu em Batanea, na Síria, no ano de 233 D.C. Faleceu
em Roma no ano de 304 D.C. Diz-se que o único momento de sucesso durante sua
vida foi ter obtido a união com Deus, enquanto seu professor Plotino foi quatro
vezes abençoado dessa maneira.
(Do livro: “NOS
PRONAOS DO TEMPLO DA SABEDORIA – UM ESTUDO SOBRE A FILOSOFIA ROSACRUZ” de Franz
Hartman)
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